A esperança

A esperança tem um quê de desejo,

Ainda que, mais que ela, eu desejei;

qual ratinho fantasiando com queijo,

quantas e quantas vezes, já fantasiei!

O esplendor das flores que já vejo,

No jardim que ainda não plantei...

A esperança sempre nos dá um beijo,

Mesmo quando a realidade dá um soco;

As melhores canções que há no realejo,

Pródiga, lança pra aliviar nosso sufoco

Dá harmonia às cores que já planejo,

Pras paredes que esperam reboco...

Esperança sóbria, até se a real é porre,

Para barcos à deriva, oferece portos;

Suas placas de aviso, usa, e nos socorre,

Avisa os perigos dos caminhos tortos,

Claro, será sempre a última que morre,

Quando isso acontece, já estamos mortos...

Ninguém é tão adulto na caminhada,

Que não brinque um pouco com a criança;

Sempre que no ringue a tolha é jogada,

O sonho da revanche entra na dança;

os que dizem não esperar mais nada,

por certo esperam, pela esperança...