Parodiando a Canção



Quem disser que viver não dói
Não sabe a dor de se viver livre.   
Por andar tão triste, nos lençóis,
A dor pensou que nunca a tive.

Se viver não dói; quem corrói
O templo da solidão empírica,
Que cá guardo e cá me destrói,
Enquanto oiço a minha lírica?

Morrer não dói, mas a dor mói
Minh’alma flácida, sem rigidez
Mistura de fome e sede do herói
Que vive de teimoso, sem lucidez.  

Viver dói, mas a dor que dói
Um dia, branda, calar-se-á
E, sorrindo, dir-te-ei: Elói, Elói
Lamá Labactâni? E Ele me ouvirá.
Pois, se um dia fui esquecido,
Hoje já não o sou; e, embevecido,
Morro e me esqueço da dor.

Ubirajara Sá
Enviado por Ubirajara Sá em 05/01/2013
Código do texto: T4069411
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