Homo Contabilis
Transparecemos modernidade
Acomodados em geringonças fumacentas
Somos espectadores de um tempo agitado, temporal
Enxergamos cada pingo resvalador
E palhetas guardiãs dançam seu vai-e-vem
Filas de pensamentos, que se espremem, engarrafados
Presos nas instâncias do nunca
Num breve tempo, da ociosidade vão se revelando
Enquanto isso, no compasso de nossos corações
No ritmo do inflar e desinflar de nossos pulmões
Transformamos a sobrevivência num amontoado de estranhices
Para nada viver
Sem saber, afinal, por que choro
Nem por que chora esta chuva sobre mim
Dedico-me somente a contar e contabilizar
Conto cada segundo, cada hora, cada dia
Contabilizo perdas e ganhos, tudo
Em tudo, percebo cifras e quantidades
Sou um minúsculo ponto no mapa, estático
Permaneço incomodado, e acomodado
Transformando o tempo num amontoado de horas, minutos, segundos
Um passar vago, vazio, sem nada entender
(Em 12.06.2010)