Quarto
O lençol não conseguiu aquecer meu embalo da fria madrugada, e despertei no rodopio da cama. Um pouco de um livro, um café, um cigarro e o embalo na rede. É engraçado como o silencio é gostoso, por ser tão raro nesta selva de pedra onde habito. Não tem a música alta da pracinha, nem o barulho dos carros e suas buzinas... E tudo me parece calmo. Até meus pensamentos ficam calmos, e num ritmo pouco conhecido por mim aqui neste quarto.
Gostaria de escrever sobre o que sinto, da sede, do olhar, do fascínio. Gostaria de escrever algo que fosse singelo como a própria natureza, algo que não fosse claro, mas que deixasse clara a minha passagem pela madrugada. Mas essa calmaria é tanta, que só sinto o frio entrando pela janela deixando a brisa suave do mar. Gostaria de escrever, mas as palavras foram embora com a brisa que me faz pensar em voltar para cama. Ao mesmo tempo sinto que devo insistir neste momento tão raro e calmo, e aproveitar cada segundo.
Parece-me incrível como nos acostumamos ao barulho, ao agito, a falta de vaga para o carro, quando se chega à casa cansada do dia... Que mesmo dentro do silêncio maravilhoso desta madrugada, falta algo! Falta algo, e é estranho! O que falta é aquele barulho infernal que a gente acostuma, e faz dele nosso fundo musical, coberto pelas músicas que amamos.
Lucinda Frota