Sonhos que se Vão
Desperto-me nesta manhã atroz
Com menos alma e menos voz que ontem,
Preenchendo as veias com ideias comuns
De materialidade; coisas que possuem explicação.
Mas, pergunto-me, para onde vão meus sonhos?
O sol já brilha no céu, as pessoas se apagam no chão.
Não há espaço em fresta ou vão,
Que comporte tantos desejos, versos e angústias,
Tantas realidades paralelas
Onde sou o Deus das vontades e palavras;
Onde portas se abrem onde havia apenas um muro sem portas;
Onde sorrisos assaltam faces desoladas;
Onde nada importa senão o que importa para mim.
Mas que importa para mim?
Disseram-me que tu querias uma poesia,
Mas uma poesia feita de quê?
Dos sonhos que rodeiam tua mente
Ou da mente que governa o teu viver?
Sobre as memórias de ferro que nos reprimem à primeira impressão?
Ou simplesmente a respeito do fato de que tu pensas
E como tu pensas me faz pensar, tentar decifrar...
As ondas negras sob as quais te escondes;
A pele de nuvens que te envolve, pálida e tênue;
Teu sorriso felino; teu olhar de profundidade.
Tentar decifrar teus mistérios.
E chego à conclusão de que não és nada,
Nada além do que sou, do que ele é,
Mas ainda assim me fascina por querer ser tudo,
Por aprisionar a si a intenção e a similaridade
De tudo o que desejas ser;
Por dominar os sonhos e extinguir as intempéries,
Como quem doma um cavalo selvagem
E o deturpa na mais célebre mitologia.
Pergunto-me para onde vão os sonhos,
Pois agora és diferente do que parecia de meu leito.
Talvez os sonhos morram, talvez eles acordem
Ou simplesmente voem para longe, para amaldiçoar outra cabeça,
Assassinar outra alma com o veneno do gosto daquilo que jamais se possuirá.