Infeliz mortal
Um gangue de vadios ganhou indulto,
E logo as ruas se encheram de bosta;
A novela mostrou gângsters no culto,
sem nenhum pudor a galera mostra;
mafiosos festejam, champanhe, de vulto,
salute, bambini, natale é cosa nostra...
Piriguetes perfumavam-se com arte,
E entravam na noite buscando o “peru”,
Promíscuos voluntários por toda parte,
Dando mais que o ordinário chuchu,
Só quem fica vermelho é o velho Marte,
Adão não se importa, porque está nu...
É proibido proibir, e a onda é ser feliz,
Como chamam ser ébrio, inconsequente;
Cada qual, pós comer o prato que quis,
Dorme de dia, em seu sono “inocente”
Assim que o corpo aprumar, vai pedir bis,
O porco faminto ruma ao lixo novamente...
O afã de chegar a esse “estado de graça”
Se vê distante na carreira apressada;
A morte arma arapucas onde a turba passa,
E a cada momento, uma é desarmada,
Sorri satisfeita contemplando a caça,
Se diverte morrendo de tanto dar risada...
Que a alegria espontânea nos surpreenda,
Aí sim, será uma alegria plena, de verdade;
É preciso pensar pra que isso se entenda,
E pensar, é pra quem já não tem vitalidade;
Essa “alegria” datada marcada na agenda,
Não comparece, mas, manda a falsidade...
Claro que valem a boa mesa, e a família,
Somente um tolo, insano, diria que não;
Mas é o potro do individualismo que encilha,
A maioria de nossa dispersa geração,
Uma vez por ano a sede faz lembrar a bilha,
A antiga regra, agora tornou-se exceção...
Desculpem se minha alma está inquieta,
E com o clássico “feliz natal”, não assino;
Usar pretexto espiritual, com outra meta,
É achar que o Senhor permanece menino;
Ele disse, edificar os túmulos dos profetas,
É identificar-se com os seus assassinos...