E a palavra vaza pelo cano de esgoto
E a palavra vaza pelo cano de esgoto
Para o lixo os sentimentos banais!
“O que digo quando não vejo o que escrevo?
O que faço quando não há julgamento alheio?
O que há quando não há desejo?
Uma vida sem anseios...”
Por mim ou contra mim
Meus sentimentos são meus
Únicos, e ninguém mais sofre
Ninguém sofre mais do que eu
E a palavra vaza pelo cano de esgoto
Para o lixo os sentimentos banais!
O sentimento é deturpado por palavras redundantes
O sofrimento é criado por fatos insignificantes
Definho com esse buraco no peito!
Sou fraco e deixo esses vermes levarem-me ao leito
É a palavra regurgitada pelo fraco dramático
Por Deus, alguém jogue esse drama no buraco!
O moribundo abaixo é objeto
O assalto ao lado é fato empírico
Tudo à volta é apenas dejeto
Só existe o eu - lírico
Meus olhos estão vendados: onde foi parar a razão?
Vulnerável, vulnerável...
... acho que foi parar dentro do coração
Meus olhos foram vendados
Tudo o que vejo é a minha mente sombria
Tudo o que falo é da minha vida insípida
Vulnerável, vulnerável
...será que consegui me livrar da ilusão?
É o estereótipo exposto do feliz sofredor
Agora leio minhas palavras com horror
Quero ainda falar de profundas palavras funestas
Discorrer sobre dilemas, mortes e fantasias
Quero expor vampiros, fantasmas, pecados...
...mas não deixar claro que sou o protagonista...
(Novembro de 2006)