Vigilância
mirei um copo
sozinho na mesa cheia
e as cadeiras
todas lambuzadas de gente
suadas e chatas:
umas bocas cheias.
aquele pobre ali, vazio…
objeto ou objetivado
ou seco somente
vidro borrado, espuma quente
e um vômito, dentro, era serpente
um bote!
arranquei as beiradas
sujas de toda a sujeira
que a gente junta entre os dentes!
e sangrava, a mesa toda
ria e sangrava satisfeita
com os nove dedos das mãos engordurados
sozinho e seco
o copo alheio ao mundo, maltratado
deveras esquecido de propósito
a maneira mais dura de se lembrar
as ripas e os pregos dilaceravam-me,
sangravam-me as carnes das pernas e costas
e o copo chorava uma espuma seca e velha
– ou será que vertia vômito? Cobra maldita!
dum súbito espanto, num reflexo pregado de dedos,
reconheci-me no vidro outrora transparente
mas o que é que eu vira ali mesmo?
pisquei os olhos
que uma lágrima de ardor me doía nas vistas,
que não se suporta quase em fixar:
o breve tempo dum piscar…