Dizem não ser poesia isto que deito
Por ser arredia
Porque deito e depois se levanta
E anda feito zumbi
Saído de mim...
Dizem não ser poesia...
Poesia,me disseram um dia
Não tem este jeito
Este aperto de peito
Este amargo de boca
Esta forma louca
Contam as estranhas línguas
Que tem cheiro de flor
Falas de amor
E mostra bocas arreganhadas
Faces rosadas
O que deito é um não sei quê
Que zomba de mim
M’ensina grego noite e dia
Faz de mim monstro
Me alimenta d'agonia
Mas,se não é poesia isto que deito,
Porque então deita e acorda comigo?
E me engana dizendo ser eu
Dizendo ser meu...
E se espreito,
Me dilacera o peito
Como fora um sonho desfeito
Não é poesia isto que deito?
A mim parece que sim
Parece minha sina
Meu fim
Parece um passo tremido
Daqueles que damos tentando não tombar
A mim
Parece um cesto de lixo
Onde coloco papéis amassados
E depois desamasso
Pra melhor me saber
Me fartar
Me falar
Me calar...