Quadros em Braile
O leitor de poesias é um cego
que adora contemplar quadros;
e, não poucas vezes me pego,
encaixando ideias como lego,
pra entender o que foi pintado...
Uns se ocupam mais co’a técnica,
por meio da qual, o pintor versa;
pintam, com pinceladas rítmicas
que acabam se tornando típicas,
marca registrada de sua conversa...
Há os que tecem elogios às cores,
sendo, harmonia seu prato dileto;
nesse mosaico de tantos amores,
óleo sobre tela, aquarela, pintores,
fazem metafísico, parecer concreto...
Por fim, os que privilegiam a ideia,
visam captar a mensagem pintada;
mais que mel, a função da colmeia,
não a presa, mas, urdidura da teia,
lhes é essa, a parte mais apreciada...
Enfim, essa vasta plêiade de loucos,
se solidão dá pé, eles dão o sapato;
o fado gritando, não! E eles moucos,
Renoir, Miró, de Van Gogh um pouco,
pintando cada qual, seu auto-retrato...