Minha Raiva
"Minha raiva estampada
Na mesmice da novela teen
De todas as tardes
Minha raiva por ter cortado o pé
Em uma lata enferrujada
Minha raiva não é diferente
Da raiva da moça que passa fome
Em um país enorme onde, muito se tem
Mas infelizmente são poucos os que consomem
A raiva é instantânea, está
No olhar do policial da esquina
Nas mãos do boxeador
Na cara chata da vizinha
No preço da passagem de metrô
Que eu pago, mas acho caro!
Dia a dia consumimos sentimentos
Feito alimento
Barateamos, marginalizamos
Não conseguimos, não queremos entender
Vejo a minha raiva sentada diante de mim
Incompreendida esperando um fim
Esperando o fim da injustiça
Dessa política suja
Dessa falsa democracia
Minha raiva tenta existir
Mas não sabe como
Nos dias de hoje não tempos tempo
Pra sentir, pois tempo é dinheiro
E sem dinheiro eu não pago
O ônibus, o leite eu não me visto
É triste admitir, mas sem dinheiro
A gente não resiste ao sistema
Minha raiva faz parte
De tudo isso
Tudo que vejo, sinto,
Dos meus convívios
Vivo meu dilema e não quero deixar
De ter e sentir, esta Raiva que me motiva
A não me acomodar diante tanta injustiça
È ela quem me faz companhia
Quando o que vejo
Ao meu redor
São sempre coisas
Repetidas...”