TODOS OS SEGREDOS DO MAR
1
" A poesia elide sujeito e objeto"*
se considerada pura
Mas ela também pode corporificar
/ o objeto
fazendo-o sujeito
tal como o Mestre materializava pão
/ significando
Vida
contida nos nossos cestos
transparentes de tudo ___ porque
/ tudo é alimento
Por que não pensar na poesia como
/ aumento ?
Aumento do poder do objeto sob
/ um Sol indireto
mas por isso Maior
e Melhor ? Indireto, não, direto
porque o objeto se nosso é a Vida
/ no trajeto
não ignoto
desde os ossos. Sereno.
Seremos a exata bifurcação da Vida
/ quando ela se torna uma junção
seremos a alma do coração
no batimento dos acrescentos
As velas grávidas de sol de luz...
/ de Vento
seremos o Objeto em perfeito
/ alimento parte
num todo comunicante
/ valorizando o
antes
Seremos manhã que sai do Objeto
/ e a nós volta
até mais do que circula o líquido
/ na serpentina e na retorta
um Objeto maior para a Vida Mor
molhada de tudo que existe e insiste
dizer
uma estrada com uma paisagem
/ a ver.
Descansa sereno o Objeto, mas
/ é Enigma
desvendado porque a Poesia
/ o plenifica o faz
falar ___ e escutamos todos
/ os segredos
do Mar !...
2
Sujeito elidido Objeto elidido o que
/ resta ? a Poesia
se bem que válido é pouco
espelho sem rosto ___ dia em noite,
/ luar sem
brancura ___ pra que nos serviria
/ uma Rosa pura ?!...
Seu odor que tem que embriagar ___
/ o destino é Mar. Destinação
Coração alado de seres não só
teres___ mas haveres ___ o dia que
/ inicia
em raio de sol ___ e se derrama
/ o Fogo
o Sagrado Fogo com todas
/ as Chamas !...
Sujeito e objeto são os seres discretos
/ resuscitados
com penas de lembro ao silêncio
__e mãos de florir__
De tal modo que mesmo o que não
/ é __ visível !___ se
/ deixa...intuir !...
* Carlos Drummond de Andrade