Explosão / E o verbo se fez presente e me fez melhor
EXPLOSÃO
(Momentos de uma crise existencial feminina)
Dúvidas, martírios pessoais e imunes ao bom senso
Volúpias, injúrias, trevas, sadismos, palavrões e utopias...
Não mais me acalmo com o soar do sino da matriz às seis horas,
Nenhum sentido maior acarretará a verossimilhança ou não dos meus atos.
Minha hora de ser lúcida e competente o tempo todo acabou.
Meu destino caprichado, meu bem-viver profetizado
Minha vida louca, corrida, meu estigma de comunicadora,
Tudo isso eu quero mais é que se f..., dane-se, exploda!
Quero é a vida! A vida presente ali e aqui, lá ou acolá,
Quero a vida num copo d água, sorvida em cada gole,
Diluída em cada gota desejada, em cada mércio de prazer.
Não quero mais ver os homens fabricarem a paz,
Odeio as fórmulas de hidrogênio, compêndios de suicidas,
Amo é a vida: livre, insana, inóspita, enigmática.
O resto – o todo (que não implique meu amor incondicional pelas pessoas,
Por meus rebentos, carne de minha carne, espíritos que transcendem meu idílio),
O resto – o nada que nada alcança – e que nunca temo,
Esse resto, que se expurgue de minha vida.
E o Verbo se fez presente, e me fez melhor
Acalmei. Achei difícil o teor desse meu tédio, mas compreendi.
Entendi que não sou uma fortaleza - ainda mais, solitária...
Descobri que sou errante, desumana, covarde, impura... humana.
Apontei em mim um sentimento de inveja - irônico pecado...
Inferi a incerteza de uma vida pseudo-feliz e quase-perfeita...
Abusei dos abusos, sentimentos confusos, encontrei a calma...
Busquei minha verdade – e ainda não a encontrei...
Catalisei as forças, orei como não se ora...
Inventei em mim meu carpe diem - matei meus leões!
Espantei esse tédio, entendi melhor a vida...
Encontre, enfim, a minha paz.