O infortúnio do céu
Quando o que, ora, te cerca for tirado,
Você que reclama que a vida diz não;
uma vasta lacuna dará o seu recado
E o juízo que agora é tão desprezado,
Fará você ver que o que tem faltado,
É tão somente, um pouquinho de noção...
Quando, ventos da experiência, enfim,
Dissiparem todas fumaças do mundo,
Depois que puderes ver a porção feia,
Que o mar lamber o castelo de areia,
Quando a aranha senil te tiver na teia,
Quando chutares o embuste vagabundo...
Quando, corrida contra a sombra findar,
saberás estares resignado, à tua sorte,
Sentado na sua rede poderás, enfim, ver
Que as antigas água deixaram de ferver,
Terás compreendido a arte de bem viver,
Pena que isso vai ser, às portas da morte...
Quando os bons projetos falirem no tempo,
Uns por muito, outros, por uns parafusos;
repousarás à sombra de estranho chapéu,
Das dores que atuam muito além do véu,
Entenderás comovido o infortúnio do céu,
Por ter que ceifar, tantos anjos inconclusos...