Esboço
Ninguém é tão forte quanto
Pensam que somos.
Há tantas fragilidades em nossas intimidades.
Somos mestres na arte
De dividirmo-nos em esboços quase perfeitos.
Transformamo-nos rapidamente no que querem que sejamos.
A vida passa e nos convencemos do retrato criado fora de nós.
Aplaudimos o espetáculo como se não fossemos os protagonistas.
Aos poucos em vez da alegria encerrada
Temos essa dor inacabada.
As duas faces tão bem representadas.
Comédias e tragédias.
Onde estão as lágrimas desse choro incontido?
Dessa dor engomada em gritos rasgados?
Esses papéis inexpressivos
O olhar tão suspenso.
Estes pensamentos parasitas
Engolindo o hospedeiro.
A vida vazia
O gota salgada
Absorvida pelo travesseiro.