Infeliz cidade
A língua negra que avança
Muito além do que deveria
O verde que só se encontra
Nas paredes, nos muros
O lixo que invade
As pessoas, as casas
Os bichos, inteligentes
Vão-se embora...
Concreto recheado de gente,
ou gente vestida de concreto?
O barulho é o simples eco da solidão,
ou a solidão é o oco eco do barulho?
Onde a paz?, onde o vislumbre de estar certo?
Onde um sinal de que valeu a pena?
Por que o longe está tão perto?
Nas esquinas os fast foods
De almas, de coisas, de idéias
Em frente à joalheria
Um indigente estirado ao chão
Aos milhares, rostos sem nome
Vidas vazias desfilando rápidas
nas passarelas do amanhã incerto
Os que resistem, estão com medo
Os drogados já não se escondem
Os mortos vivos, em toda parte
Glória da civilização moderna
Capítulo épico da nossa história
Vitória máxima da tecnologia
Gigante erguido, esmagando sonhos
Pilar da nossa cultura
Nos outdoors, Deus excluido
Ao nivel do mar, o homem vencido
Por dentro e por fora, só ilusão
Babel restaurada, página virada
Cemitério da verdade...
Infeliz cidade.