Arrumando gavetas
...tudo entornado num altar único...
seleciono o que for dádiva aos deuses do meu apreço...
o que comporta algum prazer, ainda que lembrança,
deixo ainda para holocaustos pros meus risos futuros...
os mais, descarto...
ardo-me em expectativas...
redescubro o ido...
passado carpido e de novo o reviver de antigos passos...
uns dóceis ao propósito urdido
outros descabidos...
não me agrido novamente nem reabro cicatrizes...
deleto o que me desgasta...
em nova pasta só arquivo o que me agrada...
talvez em outra aventura sobre nada...
por hora a lista:
- teu retrato
- cartas de amor que me desnudavam sonhadora
- alguns objetos que marcaram a cena
- a medalhinha tão pequena, teu presente, Mãe dos Sonhadores...
- Um livro de poema e a rosa vermelha que me destes, petrificada ao tempo entre as páginas ilustres...
e ainda o vazio do que foi posto de lado...
tudo arrumado encaixo a peça no armário
e me desfaço do que resta, sem valia...
prossigo o dia, e bem verás, segues, velado
por insistência do meu ser apaixonado...