Man Ray ___" O Violão de Ingres"___



     AFRONTADA NOITE



   Quem mandou esse pássaro trazer-me
                               / essa aurora distante ?
   Acostumara-me com a Noite
   essa ausência de plumagens brilhantes
   só o escorrer do coração como um rio
                                      / e o vazio
   onde pontos de luz ao coroar
   mais revelava. Cava
   a Noite cava
   como corda solta de instrumento
                                                        / musical
   e o espaço sem laço ___apenas
                     / o espaço distante como um
                                              / intervalo
   Agora,
   a preocupação com a plumagem
   com a gratuidade do canto na trave
                 / finíssima e vertical do sol
        / como abertos olhos Mais doce
   era apenas estar
   num estado repousante
   agora, diante, o pássaro incita
   e torna a Noite inquieta ___ apaga
   / a doçura da Paz que se via no negro!...
   Foram-se embora as lições de desapego
                                                             / quase
   um estado Zen
   e o bico do pássaro pipila poréns ___
      / essas pedras que fazem a Vida ser
   sucesso ou ilusão.
   Pássaro sem Coração. Bondade é sorrir
          / a todos os adormecidos__ que
               / malgrado a ausência de
         / ostensiva luz vivem e inoculam
   o azul
   com verdades. Se
   abre a caverna sem som
   e tudo é periculoso como desconhecer
                              / alcances de abismos!...
   Esta aurora distante chegou ( sempre )
                      / chegará antes
   de Ser.
   E crescem as mais plenas lendas
              /  ___aumentam-se os quinhões
                                             / do que se chora
   afrontada com o canto belo é certo,
                               / mas incerto dessa hora
   grinaldas fanadas na cabeça que não
   / mais na Feliz aquiescência se demora
   a Noite
   vai embora...