E não poderias calar-te???
E se me digo alma pela vida traída
Retraída
Não há em mim o que se ressente
Abrigo em meus silêncios meus gritos
E renovo-me em seus labirintos
Inda mais famintos
Com iguais instintos
Meu silêncio m’escuta
Me perscruta
E meu grito só quer deitar...
E se me digo poeta
Meu vociferante silêncio me completa
E inda que a ti não valha
É fio de navalha
Por um meio-verso daria uma vida inteira
Ou uma poesia de minh’alma cheia
Que me toma e me dá!
E se assim não fosse
Não seria o verso maldito
Nem bendito
Nem verso...
Se não fosse
O que de mim seria ?
O verso me constrói e m’esmaga
O verso me deflagra
E escapole em cápsula o que havia
E fica num canto caído
Escondido
Deitado como um feto egoísta
Visando inda mais ser protegido
E este meu verso daria uma vida
Mas tu não saberias
Porque meu verso grita mas é mudo
Ou és tu o surdo...