Solidão
 
Depois de subir e descer todas as ladeiras daquela rua em que te encontrei na contramão, meus olhos sagazes como de lince vasculham todos os recantos, becos em sombras...

Pulo como menina bisbilhotando janelas querendo reencontrar e tomar nos braços as promessas dadas no cruzar daquele olhar...

Quero aquele riso, aquela dança, a melodia suave a deitar notas ao vento... E as nuances do céu refletidas no teu cristalino...

Quero de novo aquele olhar!!


Que foi perdido num tropeção, provocado por uma pedra obstruindo o caminho... Uma pedra polida, mas sem brilho... Que me fez baixar o olhar por minutos (pensei), mas foram dias, já que o tempo nos deixa suspensos, pendurados nestes momentos com a ilusão de que não caminhou... 

Quando ergui o olhar, tua figura já tinha saído do foco de visão... Mas ficou tatuada nas vielas de minha escuridão... Como luz em fim de túnel.


Sim, depois de descer e subir ladeiras agora estou na calçada a me apoiar em árvore de outono, que quase desnuda de folhas, deixa seus galhos a bloquear o azul escuro do céu, mas permite a visão dos últimos raios de sol que vagam pelo espaço desenhando formas claras e imóveis nas nuvens paradas, estagnadas à esperar pelo vento...

É uma gravura bonita de se ver, mas sinto-me como se estivesse no meio de uma neblina, lutando para ver o horizonte... E quando o visualizo, viajo... E te vejo surgindo devagar, como em câmera lenta a sair da névoa... caminha sorrindo em minha direção, braços estendidos a me chamar até tocar-me a mão, a abraçar erguendo-me do chão...

O arrastar de folhas na calçada dissipa a cena ilusória que por um segundo fez com que meu coração flutuasse...

Foi o vento que chegou, fazendo com que as últimas folhas se desprendessem da árvore... Arrastam-se juntos, elas e o vento, me largando a sós com a solidão...

 
MarySSantos
Enviado por MarySSantos em 24/08/2012
Reeditado em 17/12/2012
Código do texto: T3846912
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