Filigrana
Descobri para que servem,
todas as 35 formas de se esperar.
Deus fala, as crianças falam,
o pífaro fala, as nuvens falam,
as pedras falam, a traqueostomia fala....
apenas a lacuna entre um ponteiro e outro
não fala. É o ponto cego da loucura.
Não há nada mais explicativo que a irregularidade.
Parece para mim, que o que tudo é,
é fonte da preguiça de apenas não ser.
E eu não posso dizer tudo
porque nada, enfim, é indestrutível.
Toda escuridão, moldável.
E honestamente, ninguém escolhe.
Eu prendo tudo ao meu lado.
Ameaço com olhos cândidos,
suborno com a fragilidade.
Mas se afeto é uma sutura na alma,
depois de tudo, algo finalmente faz sentido.
Porque depois de tudo,
é possível resumir todas as versões da espera,
num ponteiro que encontra outro
no percurso do relógio.
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Pintura: O tocador de pífaro de Edouard Manet