EM BUSCA DE UMA REFERÊNCIA...
(Vá em
fernandopeltier.prosaeverso.net
e ouça "Passarim", música de fundo na voz de Tom Jobim, composição do próprio).
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e ouça "Passarim", música de fundo na voz de Tom Jobim, composição do próprio).
Busquei o meu pai
olhando a mim no próprio espelho...
E o vi na figura, assim, do meu próprio mim...
O osso protuberante no pau do nariz...
Olhos fundos, olheira cinzenta escura...
Cabelos chuviscados, nevados, de um gris
em solenes e vários tons “degradés”...
Compleição física,
incidências coincidentes no sorrir.
Logo, pensei: talvez, no chorar... Não sei...
Posto quê, assim, nunca o houvesse visto.
Aproximei-me mais e mais e olhos de raios-X revelaram no pleno do meu interior...
Diferença apenas à flor da pele, na pele e à cor...
Eu branco, ele bronze...
Um tom bronze de trabalhador.
Aquela, a imagem que eu sempre quis.
O meu pai pra mim era muito belo,
o quanto divertido e animador, sincero...
Derramado em alegrias, sempre feliz!
Depois vi n'ua foto do meu filho
uma semelhança no esplendor...
Cheguei a ouvir seu sorriso em gargalhada...
Também vi seu jeito manso e vaselina...
Eis o perigo!
O mesmo sorriso e a persuasiva empatia...
Os três, num só, entrelaçados:
mesmo novelo e único nó.
Disseram-me:
“Quem puxa aos seus, não degenera!...”
E eu puxei ao velho, sentindo-me fera!...
Declinando o corpo fora do lume,
a não mais estar no espelho,
agora, a buscar u'a janela...
E num para-choque de caminhão,
entre a rua e a porta, uma inscrição:
“Sai da janela, curiosa!...”
Fui cuidar da plantação.
Tanto ainda a semear...
Ou tudo não passa de projeção...
Pra não dizer que não falei de flores
sem antes ter falado em ilusão!