De repente um estampido
DE REPENTE UM ESTAMPIDO
De repente um estampido
Da espingarda de pressão
Até, feriu-me o ouvido,
E também o coração,
Ao ver ali abatido
Retorcendo-se no chão
Aquele lindo sanhaço,
Azul céu de primavera,
Com a asa sem um pedaço
Como alguém que a morte espera.
Era só uma criança,
Levada pela emoção
Que cheia de esperança
Pegou a ave na mão.
Lavou o seu ferimento,
Fez carícias na cabeça
Pra amainar o sofrimento,
Pedindo-lhe não feneça
Durante o meu acalento
Aqui na minha presença.
Era só uma criança,
No gatilho da espingarda,
Que viu com muita pujança
O seu feito de vanguarda.
O sanhaço combalido
Qual troféu a sua mira,
Até, deixou-o imbuído,
O chumbo que a arma atira
Trouxe o prêmio merecido
E a glória que ninguém tira.
A vida é mesmo assim
Para todos animais,
Tem gente boa e ruim,
Tem coisa pouca e demais.
O difícil é conseguir,
Encontrar o equilíbrio
Num lugar em que o porvir
Seja o orgulho do brio,
Da honestidade e a certeza,
Do respeito à natureza.
As mãos que salvam sanhaços
Podem puxar gatilhos,
São com certeza pedaços
De inocentes e filhos
De pais que vivem fracassos,
Em meio a mil empecilhos.
Enquanto outros por sorte,
Descortino ou só cultura,
Perceberam que a morte
Não é um mal... É a cura.