MERDA
Não sou poeta de verdade
Escrevo minhas mentiras
Bem devagar, sem alarde
Não frequento academia
Não, não sou poeta não
Tenho vocabulário enxuto
Faculdade de administração
E muita falta de assunto
Do amor, já passei da idade
Pros maus poemas românticos
Perdi aquela vaidade
Gosto das ondas do atlântico
Se queres ler poesia
Veja aquela prateleira
Eles viveram um dia
Cabral, Drummond e Bandeira
Não sou poeta, sou pobre
Senão estaria em Paris
Sem grana, talento e sorte
Espero a morte feliz
Queria não ser feliz
Dentro de um mundo tão pobre
E nada no mundo eu fiz
Tento escrever algo sobre
Porque nada vai sobrar
Um fragmento qualquer
Buscam Parmênides e Heráclito
Voltarei pra casa a pé
Não sou poeta, não me leia
Lá fora há coisas melhores
Aplique heroína na veia
Leia a nomenclatura das flores
Eu repito: não sou poeta
É que não há nada na tarde
Então escrevo esta merda
Uma merda de verdade
Um pensamento, um alento
Me leva ao ponto final
A merda serve de alimento
Às flores do bem e do mal