EXTERMÍNIO

(Inspirado no poema "No Caminho, com Maiakóvski", de Eduardo Alves da Costa)

Certo dia, a injustiça pisou-me nos pés.

Eu me afastei e sorri.

Noutro, ela me arrancou os pés.

Eu claudiquei, caí e sorri.

Então, extirpou-me uma das mãos.

Mas ainda havia a outra para afagar.

E sorri.

Ela me arrancou também a outra mão.

Eu sorri mesmo assim.

A injustiça extraiu-me os dentes.

E sorri escurecidamente.

Depois, furou-me os olhos, tímpanos,

lacerou-me a língua,

carcomeu-me o cérebro.

E eu não pude mais sorrir.

Marco Aurelio Vieira
Enviado por Marco Aurelio Vieira em 22/07/2012
Reeditado em 25/09/2012
Código do texto: T3790997
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