EXTERMÍNIO
(Inspirado no poema "No Caminho, com Maiakóvski", de Eduardo Alves da Costa)
Certo dia, a injustiça pisou-me nos pés.
Eu me afastei e sorri.
Noutro, ela me arrancou os pés.
Eu claudiquei, caí e sorri.
Então, extirpou-me uma das mãos.
Mas ainda havia a outra para afagar.
E sorri.
Ela me arrancou também a outra mão.
Eu sorri mesmo assim.
A injustiça extraiu-me os dentes.
E sorri escurecidamente.
Depois, furou-me os olhos, tímpanos,
lacerou-me a língua,
carcomeu-me o cérebro.
E eu não pude mais sorrir.