CANÇÃO DA ESPERA







"Soldado, por quantas vezes desisti
e não pude entender sua batalha?"



E minha fé está exatamente,
naquilo que ainda não vi.
Plantada bem forte nos sinais da luz,
não importa se nos tiros ou na lua prateada.
Porque as feridas no corpo um dia se fecham,
mas as da alma clamam, inalteradas.
E por isso, nada traz mais o verdadeiro terror,
não importa se na morte, nos campos de batalha,
que saber-se só perante o inalterável.

Há tanta angústia oculta entre as colunas do palácio,
nos desenhos sem significado de uma criança,
que pouco importa a morte entre meus camaradas
ou envolto em mortalha de seda, junto aos anjos.
E montando guarda, para que não violem meus pensamentos,
é que eu digo: nada mais me assusta, nenhum mal me perturba.
Pois vi de perto os anjos que escolheram o outro lado,
e os que permaneceram aguardando a batalha.
Eu apenas espero que em mim rompam-se as asas,
para que eu também escolha o meu lado na guerra.
Por tanto tempo pensei não ser esta minha luta,
que apenas a observar me limitava.
Mas estava muito mais dentro do meu peito mudo,
do que nos campos que meus olhos observavam.
E por isso era tão mais fácil manipular as cenas
e tornar mais trágica a morte que de mim se acercava.

Quando sobrei apenas eu,
nenhuma oração salvou, nem adormeceu a dúvida:
Este sou eu, ou um soldado com uma missão divina?



EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 14/07/2012
Código do texto: T3777699
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