Princípio ativo

A comissão julgadora de meus poemas,

Oscila dúbia, entre dois corações;

Serão fictícios os versados problemas,

Filhos do tal de “eu poético” apenas,

Ou, vivo mesmo, as tais situações...

Bem, todo feiticeiro tem seus segredos,

Da poção, apresento parte da receita;

Algumas ogivas de antigos torpedos,

O mesmo veneno, pois, de tantos aedos,

E outras cositas que na caldeira se deita...

Uma asa de anjo que foi mutilado no solo,

Broto de esperança que medra no Saara;

o botão das vestes de algum antigo colo,

a pele dum felino que angustiado esfolo,

pois a solidão precisa, aponta e dispara...

O binóculo do tempo em mãos insipientes,

mirando reverso, afastando a esperança;

após o choque então reposiciono as lentes,

e a fantasia traz para bem perto vertentes,

de águas quiméricas que a sede não alcança...

Poeta é alma e essa é um anjo, atemporal,

trapezista no pêndulo, da saudade ao sonho,

ora o anjo, outra, o sábio, ainda o animal,

o princípio ativo é o componente essencial,

o resto, águas passadas que inda disponho...