Vermelho
Gosto do vermelho assanhado,
forte, no trage, no sapato, no baton encarnado.
Do vermelho que colore o céu no entardecer
e os colibris acorda ao amanhecer.
Do rubro saltitante que, na chama ardente, atrai,
veste última do Filho do Pai,
cenário da crueldade humana que espanta
e na singeleza da flor encanta.
Símbolo da vida e da morte,
do sangue e do guerreiro forte,
é a cor da euforia e da guerra,
espalhando-se por toda a terra.
Nos corais das profundezas do oceano dormente,
na flor do cacto, no deserto, sobrevivente,
nas aves majestosas que na selva extasia,
em leves nuances de perfeita harmonia.
No rubi que enfeita o colo alvo da princesa,
e na flor do cabelo da camponesa.
Vermelho que ruboriza a face da menina
revelando a paixão que a moral abomina.
Vermelho é a cor da energia que a vida fermenta,
e que nos lábios da virgem o desejo fomenta.
que adoça o morango e dá água na boca,
desejo, fome, carnaval, carne, animal, volúpia louca...
É a cor do pecado e do Espírito Santo,
da alegria e do pranto,
do coitado a dor,
do rei o esplendor!
Quero declarar guerra ao cinza sem graça,
ao negro sombrio que meu olhar embaça,
aos tons pastéis que tiram o encanto
da poesia, da magia e do canto.
Quero o vermelho da vida
mesmo que eu seja ferida.
Quero o prazer de provar
o vermelho que me arrisco a sonhar!
Lídia Sirena Vandresen.