O mundo todo descontrolado.
E esse desequilíbrio que me faz ficar nesta corda bamba. Peso-me e vejo a descompensação, como olhar para o próprio espelho e ver que falta um pedaço de si mesmo.
Neste mundo em que poucos se compreendem, nessa humanidade desagregadora em que poucos têm algo realmente para contribuir...
Enquanto vejo os noticiários, enquanto tento me encaixar no contrário, apenas vejo que realmente sei que os remédios estão controlados, mas bate aquela questão: será mesmo que estão? Pois vejo o mundo todo descontrolado.
As pessoas estão se afogando no descontrole emocional e vivem na base da química.
Aqui está a receita, por favor, veja-me o meu tranquilizante. Tranqulize-me. Faça-me viver nesse mundo recoberto.
Adoro essas fantasias recobertas de mentiras e inverdades. Adoro ser o que não sou, sentir o que realmente não estou em época de sentir.
Adoro fingir que gosto do que não gosto e penso no que não sinto. Como se sentir e pensar fossem coisas opostas. Adoro fingir que escrevo aquilo com que não me importo.
É. Eu me importo. Muito.
E essa sensação penosa e fresca me faz adormecer sentado. Sonho e me vejo nu, como um modelo de quem não tem amor próprio; como o próprio sonho que me traquiliza na inconsciência.
Tranquilidade, pra mim, é assim: na inconsciência. Pois, quando nos damos conta de que nos sentimos bem, vem aquela nudez, surgida das tripas, e nos retoma à química.
Sim, eu durmo tranquilo, mas não vivo assim.
É, eu vivo sozinho, e finjo gostar.
Adoro fingir...
Renato F. Marques