Os feiticeiros

Lá vão os poetas pelas veredas da vida,

Encenando ter amor, enganando a dor,

Dividindo anseios, alistando devaneios,

Buscando meios de estancar as feridas...

Lã vão os poetas uns insanos amadores,

Ofertando o regaço, implorando abraço,

Arrostando vida dura, semeando ternura,

Na doida procura, por achegos, e amores...

Lá vão os poetas com espertos sortilégios,

Jeitos, truques vários, piratas e corsários,

Propondo atalhos, sonegando atos falhos,

Arriscando no baralho, fortuna, privilégios...

Lá vão os poetas com tal de sexto sentido,

Cheirando o monturo, tateando no escuro,

Vendo suas miragens, e ouvindo bobagens,

Degustando viagens, sem cor, sem partido...

La vão os poetas com as almas de criança,

Jogando peteca, como um travesso sapeca,

Cirandando co’a ilusão, ora, jogando peão,

Fugindo à depressão, no alto da esperança...

Lá vão os poetas, cobrindo peste com viço,

Chamando por Maria, e escutando a Luzia,

vasta poção fervendo, acaba se perdendo,

uns feiticeiros morrendo, do próprio feitiço..