MEA CULPA

MEA CULPA

Jorge Linhaça

A culpa é minha

Por não saber calar-me

Por não silenciar

Diante da falsidade

A culpa é minha

Por erguer a cabeça

Olhar no fundo dos olhos do inferno

E dizer que ele é horrível

A culpa é minha

Totalmente minha

Porque não compactuo com os néscios

Porque não puxo o saco aos poderosos

Porque não me curvo diante dos erros

Porque condeno a indolência

Porque não canto a mesma música

Porque não aceito o erro

A culpa é minha

Totalmente minha

Tolamente minha

Por não ser Maria-vai-com-as-outras

Por não usar desculpas rotas

Pra ser politicamente correto.

A culpa é minha

Por dizer a verdade

Por ter aprendido a verdade

Por não escolher os fracos

Por desafiar os fortes

Por desmascarar a hipocrisia

Por ver os lobos vestidos de ovelhas

A culpa é minha

Toda minha

Por ser quem eu sou

Por dizer o que penso

Por defender a verdade

Por odiar a mentira

As falsas promessas

Os sorrisos enganadores

A culpa é minha por ser livre

Em meio a uma multidão de escravos

Que caminham cinzentos

Num mar de mediocridade

De falsa liberdade

De uma aceitação do erro

Pra se darem bem.

A culpa é minha por soltar meu grito

Por erguer bandeiras

Por não ser mais um.

A culpa é minha

Por ver adiante

De cabeça ereta

Enquanto os zumbis caminham

Seguindo a manada

Seguindo a boiada

Marcados a ferro quente

Obedientes, indolentes

Pro matadouro das almas.

A culpa é minha

Somente minha

Nada mais do que minha

Por lançar pérolas aos porcos

Que vivem cabisbaixos

Comendo apenas restos

E ao sentir doerem-lhes os dentes

Mordendo as pérolas atiradas

Voltam-se a mim e me despedaçam.

A culpa é minha

Somente minha

Semente minha

Na minha mente.

Salvador, 10 de junho de 2012.