A ISCA

Correnteza abaixo descuidada cigarra flutua,

Tentando agarrar-se confusa à galharia do leito.

Pobre inseto num redemoinho de água turva,

Qual folha solta levada ao sabor do vento.

E eis que grande peixe faminto surge à tona,

Desafiando a infeliz que resiste ao pranto:

-Responda-me já sua inútil mandriona,

por que não cantas agora teu enfadonho canto?

Indefesa sem poder alçar seu vôo e escapulir,

Diz a resignada cigarra:- Meu destino é este fim.

E completa sem ao menos misericórdia aduzir:

Outras tantas cigarras hão de cantar por mim.

Basta um leve salto e está tudo consumado,

Vai o peixe ao fundo, distante da luz do sol.

Mas torna a vir à flor d’água contrariado,

Traído por uma cigarra presa em um anzol.