SEM RIMA 148.- ... froalha ou chuvada ...

Diziam, em tempos,

que os deuses e as deusas,

ou, vice-versa, deusas e deuses,

no céu, entre as nuvens

e talvez por divergentes galáxias

brincavam a aspergir águas

em volumes diversos

sobre as terras e os viventes e os vegetais...

Hoje os novos deuses,

assexuados,

aprendizes de bruxos,

lançam não desde os céus,

mas desde âmbitos bem conhecidos,

embora ocultos e secretos, dissimuladamente,

não águas vivificantes ou violentas,

mas movimentos agitados de risco

contra viventes e mesmo vegetais...

Dizem-lhes "mercados", mas não são deuses

nem humanos, apenas desumanos

revestidos de plástico como de carne.

Nas suas mãos resistimos...

nem froalha* nem chuvada,

mas saraivada de ameaças e medos.

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(*) "froalha" s. f. chuvinhada, orvalho, barbalhada.