Um barbante pendurado no teto

Um barbante preso no teto

Eurico de Andrade Neves Borba, Ana Rech, maio de 2012.

Balançante,

num barbante preso no teto do meu quarto,

de lá para cá e de cá para lá...

petulante ouso indagar o por quê?

Instável e agitado, angustiado permanente,

cada instante num lugar.

Leste é bom.

Oeste é ruim.

O norte é inalcançável.

O sul é muito distante...

Sem um centro, onde estável, possa descansar,

pendurado lá me vou pensante,

sem me saber pequeno, como peça ínfima

na dança predeterminada e incessante do Cosmo,

sem ter vontade de nada saber mas tudo sabendo e sentindo.

Cansado de tanto decidir, inutilmente, as direções a seguir

no meu balançar, como um iniciante aparvalhado,

sem nunca perceber que já estava, ao nascer,

inexoravelmente indicado a percorrer os únicos caminhos,

apontados pelas possíveis secantes que um circulo oferece para cruzar os 360º.

Opções ou limitações intransponíveis da vida? Como interpretá-los?

Trato, já velho, de renovar energias

e expectativas para, então, vacilante,

sem nada esperar de novo, (mas curioso),

pendurar-me, como sempre, no meu barbante

esperando que ou arrebente ou despenque do

teto onde foi fixado por alguém,

(mas não por minha vontade...).

O meu céu de cada adormecer,

meu horizonte expectante de cada acordar,

meu destino permanente,

de viver balançando pendurado,

confiante na minha única realidade palpável,

de toda uma vida e de uma consciência – um barbante.

Constante e errante, convencido no poder de

um barbante vagabundo, barato de se comprar,

preso no teto do meu quarto, o que me faz sempre concluir:

levanto arrebentando o que me prende e tento voar livre para onde quiser?

ou continuo a viver pendularmente?

Mas só disponho 360º de direções a seguir?

Se subir dizem que vou para o paraíso... Se cair parece que o destino são os infernos...

Então me parece mais seguro, frente às opções que se me abrem, continuar pendurado e oscilando, dia após dia o dia, convivendo com as condições impostas de ficar balançando, o mais cômodo e resignado possível, de lá para cá e de cá para lá...