SOMBRAS DE VERSOS
Juliana Valis




Por que vejo sombra

Onde apenas haveria vida ?

Por que vejo dor

Onde apenas haveria verso ?




Não sei, na verdade me peço

Que a chama do amanhã

Possa transmutar-me a face

Num verso terno que me abrace

E que me beije na eterna sombra

Do que fui, refletida no infinito...




Talvez  eu veja a sombra na profusão do grito

E tudo gira, corre, dança, sem sentido,

Como se entre o fim e o meio se escondesse, aflito,

O melhor resquício que já tinha ido 

Buscar no êxtase a dimensão da aurora...




E eis que o verso chora

Escondendo-se do fim, de mim,

Pois na desilusão do frenesi da hora

Apenas dorme e  mora a sombra do começo ao fim.