ANGÚSTIAS NO CÁRCERE

Tenho minhas mãos a congelarem, o peito premido.

Em seguida experimento uma grande languidez em meu corpo.

Uma sensação dorida que me faz desejar ardentemente o indesejável.

Sim, desejaria abortar minha inepta alma.

Acaso tenho uma?

Meus dias são consumidos nessa espera ociosa.

Na cela onde fui metido, a solidão é torturante.

Estimaria poder falar das minhas inquietações, mas aqui ninguém há de ouvir tantas lamúrias.

Outrora, homem orgulhoso das ciências exatas, hoje percebo minha mente demasiado acanhada para poder abarcar todas as questões da humanidade e do ser.

Ah, quem dera por um instante acreditar!

Ser feliz como as pobres lavadeiras que contam com a ajuda de Deus.

Mas tenho os olhos cerrados para o além-túmulo.

Quando a morte me sobrevier, sei que fecharei meus olhos para sempre.

Então que venha logo, ó infame!

Já sinto a mortalha a envolver-me.

Meu sorriso cínico é uma tentativa algo sombria de disfarçar meu medo.

A perspectiva do nada após o desenlace me apavora.

E a angústia me faz derramar um pranto sem lágrimas.

Os amores que tive terão sido apenas quimeras, se ao final da romagem não houver continuidade.

Oh! Todo o meu sofrimento terá sido em vão.

Espero por uma única prova que venha modificar essa sorte.

O dia amanhece e sob o brilho de luz mortiça, acordo sobressaltado.

Começo a ter taquicardia.

O carrasco inclemente veio buscar-me para executar a sentença.

Fim da angústia; finda a espera.

Quem sabe o fim de tudo.

Quiçá uma oportunidade para o recomeço.