"Um entusiasta das multidões"
“Um entusiasta das multidões”
Se fosse me apresentar seria apenas mais um José, nada de estrelismo ou contemplação, simplicidade e certo ar de tolice, esta sim pode ser minha definição.
Não sou destaque em nada, minha beleza é rústica e hostil, minha fala é mentira desvairada, meus sonhos retrocessos de meus erros, meus amigos, incompletos e vazios.
Se fosse para caminhar escolheria de comparsa o silêncio e a solidão, a estes não posso fazer mal; aos ouvidos do infinito, minha tresloucada fala não é um dia da estação.
Não sou o valente das histórias, sou o sarcasmo da recordação, sou amigo da rima descompassada, sou o hiato do poeta em sua profusão, sou o castigo da risada inacabada, acho que sou apenas o fim da toda canção.
Se fosse para recordar meus olhos abertos seriam a mais negra escuridão, se fosse para lamuriar, as lágrimas seriam mares de perdição; agora se fosse para felicitar ou alegrar, seria então o silêncio sepulcral enterrado no carvalho do caixão.
Não sou mais capaz de me entusiasmar, a vida me mostrou que isto é tempo perdido, buscar pela felicidade é martírio, sonhar com dias melhores, castigo, mas acho também que minha fala pode sim procurar por sonhar, pois por mais sofrido que seja nossa jornada somos seres feitos para vivermos em pares e isto cedo ou tarde se torna verdade; então vamos felicitar a esperança e o amor, mesmo que eles venham tardios.
Marques Bueno