Ainda que...
Depois que o silêncio
Restou para acalantar as inquietudes
Daquela mão já cansada
Firme, calejada, enrugada;
A senhora se pôs a recitar
Não era poesia o que sem sentir
Proferia para aquelas pernas calmas
E nem talvez fosse alguma oração
De quem já não esperava sequer movimentação
Era a única docilidade do tempo
Que se esquecera de dizê-la que os cabelos
Nasciam brancos depois que já não mais sangrava
E que por cada segundo que passava
O sorriso torpe ao seu lado já não se apresentava
Se esperava?
O seu ritmo mais certo era aguardar calada
Sabendo que as levezas das mudanças
Dos dias de sol que nasciam sem sonhar com ela
Eram talvez as mais certas harmonias daquela vida amarela
A única coisa que poderia saber
É que com o tempo: o amigo, amante, inimigo, caído;
Homem de sentidos, que habitava sua cama toda noite;
Estaria mesmo sentido-a, querendo-a, desejando-a;
Ainda que o tempo insistisse
E não ouvisse que ela ainda estava linda.