TEMPO PRESENTE

Entrego-me à inútil poesia
do tempo presente.
Escrevo, o último habitante da ilha.

Entrego-me à faina
de querer construir o mundo
em palavras candentes.

Não posso.
As palavras
ou me faltam
ou se repetem,
cruzes pela estrada.

Mas tento
e, às vezes, consigo
beijar o infinito.
Mas a boca que beijo,
outro beijou antes.

De modo algum, me sinto traído.
Distraído vou descobrindo
a nudez das palavras,
que outro viu antes.