Ouço vozes

Há uma voz que é jocosa,

Sem o peso de um martelo;

Apenas matreira e graciosa,

O humor, seu senso do belo;

O simples tê-la é uma sorte,

Até mesmo o bobo da corte,

É necessário nesse castelo...

Há outra que muito repete,

Talvez, pra fixar o que diz;

Joga sempre igual confete,

E esse jogo, já lhe faz feliz;

Diria: falo do quê tenho visto,

Se acaso vejo apenas isto,

Foi o que pude não o que quis...

Temos ainda a contestadora,

Que fala sem compromisso;

Ora guarda outra deita fora,

Conforme o poder do feitiço;

Às vezes doma um elefante,

Outras, mero encanto infante,

Pilotam seu viés e seu viço...

Há vozes mui carentes de ir,

Buscar uma dose de empatia;

De um jeito indireto pedir,

Que entendam sua agonia;

Nem carece mostrar apoio,

Basta dar trilho ao comboio,

E o simples trilhar, já alivia...

Há o deslumbrado alucinado,

Que vê o céu onde tem bosta;

Como o que por estar viciado,

Nem nota que o cérebro tosta;

Só ele vê o passarinho verde,

Se apressa a estender a rede,

Que fazer, se o sujeito gosta?

Há vozes que reportadoras,

Dividem suas experiências;

São competentes narradoras,

De muitas vidas, de vivências;

Primeiro vão colher impressão,

Uma vez gravada no coração,

Reproduzem com competência...

Que pena, que há pretensiosas,

Que pesando cem, cobram mil;

Frágeis, mas, pousam vigorosas,

Sem sequer notar o embuste vil;

Cavalgam sem ter a encilha,

os pobres chiados de Brasília,

querem ser, a voz do Brasil...

Tem vozes que incomodam,

pois, pisam alheios calos;

jardineiros atentos que podam,

galhos malsãos, desde o talo;

arrostam vaias, recebem ovação,

ora desprezo, outra, aprovação,

por onde passam no seu cavalo...

Qual a voz que aprecio mais?

Eis uma pergunta impertinente!

Ora sou de guerra, outra de paz,

Conforme o que vem pela frente;

Talvez minha estima mais alta,

Seria pela que fizesse mais falta,

Se acaso se calasse de repente...