Fazendo caretas para o destino

Eu hoje estou a fim de dormir... com a cara enfiado num livro.

Fazer careta para o destino, rezar... enquanto viro cambalhota.

Quem sabe me consumir... em desatinos de música romântica.

Provocar vômito a despejar disparates, enxovalhar o semelhante.

Subir e descer ladeira, como se tudo não passasse de aviltante.

Rosnar feito um cachorro doido, pular feito bola de ping pong.

Ir ao circo para ver os elefantes, ao puteiro para Martini Bianco.

Estou a fim de não escovar os dentes, de passar ao largo do chuveiro.

Zapear com o controle remoto, esconder-me em remotas digressões.

Andar em direção ao zênite, embriagado de zurrapa, zéfiro nos cachos!

Tomar um chopp cu-de-foca, perder o foco e a vergonha, só um pouco.

Estou a fim de bater um pênalti, de disputar os cem-rasos com um jaboti.

Estou a fim de te beijar, meu bem, estou a fim, estou a fim, ok? sim? hein?

Estou a fim de descansar... até o peidante fazer bico, e ver as coisas como dantes:

Sóbrias, alegres e não-sombrias, a relembrar o modo lindo como tu sorrias!

Estou gordinho mas zen, tesudo qual golfinho: então vem se engalfinhar...

Comigo, umbigo com umbigo, a alma, o karma, tua luta e minha calma, vem!

Eu hoje estou a fim de ser e não-ser, de ler nem que seja bula de xarope,

De espiar nem que seja bunda de neném, de ver o que é que tem, o que é que tem,

De descobrir, de descobrir, de entreabrir ao menos as continas do universo,

De trazer para perto tudo que disser respeito a te fazer feliz só um pouquinho.

Alguns estragos subconscientes, outros tantos deslizezinhos públicos, eis-me:

O homem que vos fala em poemas, cantilenas estranhas, lamentos ancestrais.

Tudo que criamos neste mundo me parece às vezes fruto de alguma neurose,

Posto que quando satisfeitos tendemos um pouco à matéria orgânica repousante,

Quer dizer, a tensão é o ponto-de-partida, o start, da arte da criação, a fuga da caverna.

A eterna busca, a rebuscada abordagem disso pelas mais diversas disciplinas.

Num mundo devoluto luto para me fazer ouvir, grito não menos que desesperado:

Hei! Hei! Hei, you! O que há de errado? O que há de errado? Emperraram com a vida?

Eu hoje estou a fim de que as feridas cicatrizem, o perdão redescoberto e exposto,

O gosto pelas coisas boas e saudáveis da existência, sublime resistência pacífica,

A última sobre um ideal antigo, um artigo em forma de canção desencanada...

Escrever aquilo que quer ser escrito, zumbido e Zanzibar, bebum e Jurubeba:

Beba coca-cola! Vê se me descola um boquinha, pois tudo está em seu lugar!

Graças a Deus! E o resto está na unha do capeta... vê se nã aborrece, seu punheta!

Eu hoje estou a fim de explodir, eu hoje estou afim, e paz e amor é igual a foda-se!

Gato Véio Ferreira
Enviado por Gato Véio Ferreira em 27/04/2012
Reeditado em 27/04/2012
Código do texto: T3636030
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