Eu e Tu, minh'alma
Agora que você se foi, não em presença efectiva aos meus olhos, mas em dor latente aos meus sentidos, cá estou, truncado, como em penitência á pensar. Esqueço-me da brevidade de teus sentimentos e indago-me sobre aquilo que mais habita, dilacera o meu ser, ferida exposta que deixaste, que sangra, sangra e não se fecha.
Pondero-me á sofrer-me pelas peculiaridades, serio pelo o sonho malogrado ou pela verdade que em ti não houve? Não sei ao certo.
De certo que só fora um sonho, d'outro modo cá ainda estarias, mas entendo eu que tal desventura se deriva deste teu senso de propriedade contrito, equivocado, que levou-me tudo que de mais belo um dia habitou-me.
Deixou-me apenas os teus estrovos, tuas mágoas, os teus, agora meus medos, a tua, agora minha, apenas minha culpa. Abraço-me aos teus diabos que me inquietam e calo-me, pois sei que os convidei de facto.
Por vezes tem sido assim, antes de me deitar, após tanto relutar contra a verdade que os teus diabos me trouxeram, cá fico, eu e minh'alma, a indagar aquilo que nem ousaste responder:
- Como pude em ti acreditar? Como?
Assim, dou-me um repouso dos teus diabos, que nada respondem, peço-lhes paz para então adormecer, pois amanhã preciso tornar a isso que chamam de vida. Só novamente e, mais parece só, eternamente... Minto! Fica eu e tu minh'alma, á apetecer solidão. Afinal, fora esse "amor", mais um dos presentes que me deixaste, a solidão.
Gracias por tudo "amor". Como me alegro ao ver-me em retalhos.