Diatribe ao engano
O engano é fera em balido,
Um caso pra quê se estude;
Mesmo fraco ou combalido,
Encena estar, vendendo saúde;
Nem sempre é reconhecido,
Sob o belo pelego da virtude...
O engano é sofista que entoa,
Canta o que devia ser chorado;
A visão que sempre fora boa,
Refaz, mercê de seu agrado;
Diz ser, ilha de água, a lagoa,
Cercada de terra, por todo lado...
Engano, inconstante chama,
Ardendo em eventual tição;
Mui rápido brada que ama,
Quando joga pela sedução;
Até vira um leão na cama,
Pra disfarçar ao camaleão...
Do engano é inútil o bisturi,
Possui, e não opera, contudo;
Basta a gente se distrair,
E pagamos de botocudos,
Qual pedicura de saci,
Faz a metade e cobra tudo...
Um dia o juízo estará forro,
Os ovos quebrarão no ninho;
Acredito que eu não morro,
Sem beber um gole desse vinho;
Tanto grita, mentindo, socorro!
e um dia, o leão, come Joãozinho...