Verborragia quase sem sentido
Encontro desenhos falantes
borboletas que não voam
gônadas que não gozam
e não encontro você!
Vejo tudo jogado no lixo
cometas caindo em baldes d’água
bocas gargarejando sangue
moicanos pichando:
‘Sex Pistols’
em camisetas surradas
de pseudos-punk’s
e não encontro você!
Já senti saudades sem desejar um reencontro
encontrei sonhos reais na minha irrealidade
li livros com páginas intermináveis
eu vejo, vejo portas, portas arrombadas
vejo The Doors e todas as people are stranger
(Menos você)
Encontro tórridas e
gelatinosas
e-jaculadas Morrisônicas
e-não encontro você!
Tudo se fecha
numa intrincada obscuridade
para todos, para mim,
anoitece, anoitece, anoitece aqui.
Vejo grandes undergroundes
pequenos mainstreans
e grandiosos porras-loucas
e não encontro você!
Já procurei embaixo do tapete do globo
nadei até as profundezas mais sombrias
li incessantemente o livro:
Universo em Desencanto
bebi da mesma bebida que Tim Maia
dividi átomos indivisíveis
recusei o Nobel da Limitação
pedi conselhos à Alexandre Magno
e não encontro você!
se toda a força de vontade criasse um lugar
mesmo um quarto vazio
mesmo paredes brancas
se eu soubesse onde se encontra a substância da gravidade
se houvesse um contato direto com a insanidade
eu também encontraria a mim
mas não há motivação pelo passado
não há esperança para o futuro
não há perspectiva para o presente
se não encontro você, Deus!