Choro no Exílio
Ainda vivo...
Ainda vivo, estranhamente!
Coração envelhecido,
Espírito adormecido
Amargando na distância a dor de meus frutos
No abraço diário de minha ausência
Neutralizado nesse templo de inexistência
Porões de silêncio aplacando meus gritos de desespero
Inimigo no encalço de minha vida
Passos rastreados por olhos de serpente
Ainda vivo, apesar das oportunidades
Paciência - imposição da esperança
Filhos do esquecimento
À deriva em barco sem condutor
Delirando em vislumbres de sonhos infindáveis
O levante de uma terra de democracia
Num país de vozes sufocadas
Fuga desesperada na madrugada
Nostálgicos sussurros em minha cabeça
Ardente desejo de voltar
Perfume a impregnar-se nas narinas
Uma porta que não se abre,
Impassível ao tormento de minhas batidas
Frio e insônia a embriagar minha aurora
Locomotiva de tristeza a transportar-me
Para além das fronteiras de infinitas terras
Aonde a solidão somente é meu legado
Aonde aguarda-me o ozônio de minha fé