Interrogação

Neste tormento inútil, neste empenho

De tornar em silêncio o que em mim canta,

Sobem-me roucos brados à garganta

Num clamor de loucura que contenho.

Ó alma da charneca sacrossanta,

Irmã da alma rútila que eu tenho,

Dize para onde eu vou, donde é que venho

Nesta dor que me exalta e me alevanta!

Visões de mundos novos, de infinitos,

Cadências de soluços e de gritos,

Fogueira a esbrasear que me consome!

Dize que mão é esta que me arrasta?

Nódoa de sangue que palpita e alastra…

Dize de que é que eu tenho sede e fome?!

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Florbela Espanca
Enviado por dldurbin em 14/03/2012
Código do texto: T3554521
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