O FANTASMA DO TEATRO
A Vida é um palco onde o homem representa para existir. Eu sou a plateia, assisto tudo o que é possível, desde o mais singelo gesto de carinho ao mais nobre horizonte e sua extensão. Cientistas da Psicologia dirão que sou voyeurista; em outras palavras, um infeliz neurótico.
Amo as cores, a harmonia e os movimentos mais sublimes que se concretizam no palco, na vida...
No palco assisto tudo, desde o mais puro amor ao mais trágico ódio.
Assisto a dualidade em cena, tão colorida quanto o arco-íris, que procura representar as mais diferentes cores.
Mil sons que se afunilam ao mais profundo orgasmo dos sentidos, gerando o prazer da apreciação do belo que supera o feio e aliena o homem, levando-o à mais profunda curtição do tudo para o nada.
O homem procura representar no palco da vida o seu mais sublime sonho; pena que no mais íntimo do seu ser habite a desilusão, pois ele só pode representar, sem viver o personagem de seu sonho.
Mesmo o homem alegre e feliz traz em seu íntimo a tristeza de não ser o que gostaria. O coração do homem é um castelo medieval, onde o "Rei" é a Dor, que é fruto do sofrimento por não conseguir realizar seus desejos.
A vida é um palco, onde o homem representa para poder viver em sociedade, em harmonia com o outro, cumprir normas...
No palco (na vida) o homem se fantasia, usa máscaras e maquiagem, para ocultar o ator e vivenciar o personagem de seu sonho, mas acaba vivenciando aquele moldado pela sociedade ou ambiente onde vive.
A vida do homem é um palco, e no seu coração há um outro palco onde ele representa para si mesmo a realidade de seu ser, que não é representado à plateia. No palco não lhe é permitido realizar seus desejos, porque o seu personagem nasceu morto pela censura moralista da sociedade e só lhe sobra a oportunidade de representar o que o padrão moral permite.
No palco do coração do homem a estrela é a dor, devido este não poder encenar o que realmente é. O homem é um ator que é obrigado a trocar de máscara para se adequar ao ambiente e ao momento...
A neurose é o prelúdio da morte, é o fruto da não realização do homem como ser que ama e odeia; que vive...
Assistir o espetáculo da vida é pensar na vida (e a sua como vai?) e em sua estranha dualidade.
Sou plateia e vejo tudo o que acontece no palco, o bom e o mau, o bem e o mal, tudo se desvela no show do amor e do temor, e isso pouco me emociona, pois sou uma plateia de poltronas vazias onde não há um único alienado para bater palmas e se emocionar com o desfecho da realidade.
Sou uma plateia irreal, com o único objetivo de assistir o teatro no qual a vida é o protagonista e que desde o primeiro ato, luta com a morte...
Sou o fantasma do teatro, onde você é a plateia que acredita assistir à peça em que sou o personagem, mas lhe asseguro que, como todo homem, também sou ator e vivo a representar.
S A M N A N T E S
ALUNO DO CURSO DE FILOSOFIA DA UNIFAI - SP