POLÍMEROS
Juliana Valis


Não sejamos descartáveis !

Ainda que o mundo se faça de plástico

E se revista, a cada dia, de ódio,

A despeito do vento mais letárgico,

Não sejamos polímeros !




Descarte a raiva, mas não descarte o riso,

Descarte a máscara, mas não esqueça a essência,

Descarte a demência do que não é preciso,

Mas não descarte o ser humano neste vil abismo

Do consumismo parco e sempre mais frustrante...




Tampouco descarte os versos das fotos de outrora

Como universos do infinito adiante, 

Que vagam ilesos, sem qualquer demora,

Em busca de sentido ao tempo mais gritante... 



Não, por favor, nunca descarte o amor

Em função daqueles que se fazem de plásticas,

Diluindo no âmago de toda cor

Um resquício das modas mais fantásticas

Que, um dia, apenas desaparecerão...



Tampouco descarte seu coração

Que bate, ama, e não é produzido em série

Industrialmente, neste tempo em vão,

Como hardware de uma intempérie,

Impregnada nas coisas como elas são,

E não, apenas, como deveriam ser...



Não, não descarte mesmo em você

O sentimento que tem mais valor,

Neste mundo que já  nos faz sofrer, 

No altruísmo que reveste o amor,

Além do engima entre "ser" e "ter"...



Finalmente, não descarte a utopia

De ver o amor reinar sem sombra e sem calma,

E podem plastificar o nariz, a noite e o dia,

Mas  haverá cirurgia plástica, no fim, pra alma ?


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Quadro de Salvador Dali