TEMPUS FUGIT... O QUE SOMOS SENÃO O QUE JÁ VIVEMOS? 

(Terra amada... Meu poema de saudade, meu diário e eterno retorno...)
 
Terra amada - meu poema de saudade, meu diário e eterno
retorno - sento-me à tua mesa e durmo debaixo do teu teto,
porque é de ti que me vem o retorno à infância e os tempos
felizes que se perderam nos oceanos do meu tempo. 
Não há sonho onde não estejas presente!

Não há pensamento onde não repouse o teu silêncio criador.

Tu dás-me a paz e o descanso. Tu descerras na vastidão da terra
a carne transcendente, e em ti principiam e terminam todos
os elementos.

Minha memória perde em suas brumas os aromas da flor
da amendoeira, das mimosas amarelas, das rosas de maio, da giesta em flor, da urze, do rosmaninho, 
do alecrim da serra 

e de todos os frutos maduros que colhi da terra. 
Teu cheiros, ruídos e sabores; tuas águas, árvores e bichos;
tuas estrelas, sóis e luares 
estão em mim como a vida 
e sobre cada coisa demoro meus frágeis instantes.


Apesar da distância, repões diariamente a tua força maternal
e sinto que tudo sempre
circulará entre o teu sopro e o teu amor.
Todas as coisas me nasceram de ti, como as flores nascem
nos campos fecundos, e assim como as tuas raízes es
tão profundas 
nas pedras, és pedra enraizada profundamente em mim. 

És a minha eterna eternidade e peço ao vento que me traga,
em
silêncio, as tuas palavras;
que me traga as tuas frescas e serenas madrugadas; 
que me traga do espaço a luz inocente das estrelas da infância;  
que me traga dos teus céus o voo das andorinhas; 

que me traga a saudosa cantiga das águas do meu rio; 
o relinchar dos cavalos; o chilreio dos melros, dos rouxinóis,
dos grilos, das cigarras... 
Minha saudade devora o azul
do teu mar e o verde do teu solo! 


Minha Terra, meu sol quente, meu inverno frio... Cantinho abençoado da minha alma, em cada suspiro da memória. 
E sempre pedirei ao vento: traz-me a frescura da água das fontes,
o cheiro da terra molhada, da grama acabada de cortar...! 


O que somos senão o que já vivemos...?
Fecho os olhos e entre o teu norte e o teu sul, 
entre o teu leste e o teu oeste descanso meu pensamento...

Ainda sei exatamente o lugar em ti, onde o sol nasce
e se põe no horizonte e 
onde os ventos dos quatro cantos
da terra se reúnem para cantar. 

E quando o sol da minha vida se puser, 
que no teu céu, terra amada, 
as estrelas brilhem em meu lugar...

 
 
 
Um pouco mais sobre Tempus Fugit
Tempus fugit é uma expressão latina que significa  "o tempo foge", ou "o tempo voa". Teve sua origem na obra Geórgicas, do poeta latino Virgilio (Publius Virgilius)  
"Sed fugit interea, fugit irreparabile tempus”  (Ele foge, irreversivelmente, o tempo foge). 
 
 
(17/03/2010)
Ana Flor do Lácio







O tempo, algoz cavaleiro,
Por quem cai jamais espera;
Alado, foge fagueiro,
Mas nunca o mesmo que era. 


(Gomes da Silveira)

 
Ana Flor do Lácio
Enviado por Ana Flor do Lácio em 09/03/2012
Reeditado em 13/05/2014
Código do texto: T3545338
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