POEMA EM CONSTRUÇÃO
Tenho tantos anos no calor deste verão
No alvorecer tenaz das minhas labutas em construção de mim
Tenho três, quinze, vinte e cinco, trinta e um e oitenta e sete
Tenho segundos percorridos na corrida pela vida
Em desalinho e ornamento
Tenho tantos anos mais a ir adiante
A voltar a trás na lembrança de mim.
Tenho um chocalho, um ramalhete e um acordar.
Todos esses anos me fizeram réu do amanhecer
Fizeram-me escravo de um querer além
E na despedida do meu passado
Eu me presenteio com um sorriso
E me retribuo com um abraço em torno de mim
Por ter conseguido largar mão da peia da vida
Por ter andado com o semblante aberto ao vento,
Sem nenhuma querela, sem nenhum lamento esperando num cochilo
Que eu consiga acordar bem humorado.
Tenho tantos anos nos meus planos
Tantas alegrias para compensar as minhas dores
Tantos amores para merecer as minhas flores
Tantas conquistas por merecimento
Com todo o discernimento assaz que me leva para acolá
Tenho a luz que aos poucos vai iluminado,
Em cumplicidade com o tempo,
O negrume da minha consciência.
Amanhã é vinte e dois, e hoje, eu espero que eu consiga, pelo menos,
Chegar aqui com alguma virtude
Com tantos anos pesando em minhas costas
E que, talvez, irão pesar por outros tantos.