POEMA EM CONSTRUÇÃO

Tenho tantos anos no calor deste verão

No alvorecer tenaz das minhas labutas em construção de mim

Tenho três, quinze, vinte e cinco, trinta e um e oitenta e sete

Tenho segundos percorridos na corrida pela vida

Em desalinho e ornamento

Tenho tantos anos mais a ir adiante

A voltar a trás na lembrança de mim.

Tenho um chocalho, um ramalhete e um acordar.

Todos esses anos me fizeram réu do amanhecer

Fizeram-me escravo de um querer além

E na despedida do meu passado

Eu me presenteio com um sorriso

E me retribuo com um abraço em torno de mim

Por ter conseguido largar mão da peia da vida

Por ter andado com o semblante aberto ao vento,

Sem nenhuma querela, sem nenhum lamento esperando num cochilo

Que eu consiga acordar bem humorado.

Tenho tantos anos nos meus planos

Tantas alegrias para compensar as minhas dores

Tantos amores para merecer as minhas flores

Tantas conquistas por merecimento

Com todo o discernimento assaz que me leva para acolá

Tenho a luz que aos poucos vai iluminado,

Em cumplicidade com o tempo,

O negrume da minha consciência.

Amanhã é vinte e dois, e hoje, eu espero que eu consiga, pelo menos,

Chegar aqui com alguma virtude

Com tantos anos pesando em minhas costas

E que, talvez, irão pesar por outros tantos.

Márcio Ahimsa
Enviado por Márcio Ahimsa em 21/01/2007
Código do texto: T353943